Por que falar sobre comportamento alimentar, saúde mental e home-office na pandemia?
Passados um ano e cinco meses após a declaração da OMS que estabeleceu uma situação de pandemia mundial, a COVID- 19, nos impondo medidas de isolamento social de caráter global, os efeitos psicossociais do trabalho em home office é uma questão a ser abordada, uma vez que tem aparecido modos de sofrimento de forma recorrente na clínica, nos convocando a uma reflexão sobre este modelo de trabalho, que já era praticado por algumas organizações e categorias antes da pandemia, e com o agravamento da mesma e a necessidade de isolamento, soma-se a urgência de garantir a saúde das pessoas, sem tantas perdas de postos de trabalho.
Se, por um lado, o trabalho remoto se apresenta como uma possibilidade de mitigar os impactos sociais da interrupção do trabalho presencial de forma abrupta, por outro lado temos como consequência das mudanças nas rotinas de convívio social, incluindo a realização do trabalho externo a casa, os impactos biopsicossociais que aparecem nas produções cientificas e na escuta clínica como indicadores de agravo a saúde mental e alteração no comportamento alimentar dos trabalhadores.
A relação entre saúde mental, comportamento alimentar e trabalho.
Considerando a definição de saúde da OMS, para além do bem estar físico ou ausência de doenças, atentando ao comportamento alimentar como sendo um conjunto de fatores biopsicossociais no qual estão inseridos influenciadores das ações e escolhas alimentares do sujeito, que devem ser contextualizados e relativizados, e atrelando saúde mental como um entendimento de um sujeito com acesso aos recursos externos disponíveis na comunidade e na sociedade, que influenciarão no desenvolvimento de recursos internos, personalidade, identidade e resposta emocional, concluímos que é uma questão para a saúde mental e o comportamento alimentar as respostas de cada indivíduo para esta nova situação em que o trabalho passa ser realizado em casa.
É importante considerar a função simbólica do trabalho, com possibilidade de produzir efeitos positivos, todavia a sobrecarga vivenciada pela intensificação das rotinas e a não possibilidade de termos construído “um saber lidar”, pode também produzir efeitos negativos expressos em sofrimentos físicos e psicológicos, como alterações do comportamento alimentar, do sono, ganho de peso, humor rebaixado, irritabilidade, ansiedade, angústia, medos, sentimento de incerteza, conflito, inibição da criatividade, medo de perder o emprego, entre outros.
Alguns apontamentos sobre os cuidados com comportamento alimentar e a saúde mental durante o trabalho em home office.
Neste cenário, algumas estratégias podem diminuir os impactos biopsicossociais negativos para quem está trabalhando em casa. A construção de aprendizagens sobre a organização das rotinas, melhor administração do tempo e conciliação das atividades, podem promover maior autonomia na gestão das rotinas, maior proximidade familiar e melhora da qualidade de vida.
Estudos apontam que práticas de autocuidado, acompanhamento especializado, relaxamento, atividades físicas, leituras, engajar-se em atividades solidárias, ouvir música, assistir filmes, fazer contato ainda que virtual com pessoais queridas, preparar as próprias refeições, relembrando histórias afetivas e dando sentido ao comer em conjunto e com atenção, aliado a revisão continua das rotinas são algumas estratégias que tendem a contribuir para a melhora da qualidade de vida incluindo o comportamento alimentar e a saúde mental.
Considerar o trabalho como experiência humana e processo de subjetivação que pode contribuir com a produção de vida ou influenciar no adoecimento, é lançar olhares sobre as mudanças da relação trabalho e trabalhador que deve incluir o trabalho remoto enquanto possibilidade de se consolidar como experiência que afirme os sentidos positivos do trabalho e contribua com a qualidade de vida dos trabalhadores.
Coautoria: Catiusca Cardoso Sousa – Nutricionista - CRN5: 8513