A maneira que cada um tem de encarar as casualidades do decorrer da vida, influenciam diretamente na forma que ele vai lidar com um tipo de perda. Numa sociedade completamente voltada para o imediatismo, é muito comum ouvir pessoas dizendo que não tem tempo para perder sofrendo, o que elas não sabem, é que, a negação também faz parte do processo de luto e que inevitavelmente, acabará sentindo sobre isso em algum momento.
Ao contrário do que se pensa, o passar do tempo não é determinante para a elaboração e reconstrução de vida do sujeito acometido pela perda inesperada de alguém. Os momentos iniciais após a perda são aqueles em que a maioria encontra-se em choque, enfrentando ao mesmo tempo com a burocracia da morte, “porque teve que acontecer com ele(a)?” dentre outros questionamentos.
Após este período, o enlutado passa a dar-se conta do significado que esta perda ocasionou em sua vida, passa a sentir a falta do ente querido e a questionar-se sobre o ocorrido, vindo a desencadear sintomas de stress, depressão ou outros. Enfatizando que o luto não se dá um direcionamento a um ente querido, mas, sobre algum tipo de objeto querido para aquela pessoa, sobre aquele valor, aquele apego.
A curto prazo, é mais fácil fingir que nada está acontecendo e simplesmente ignorar a situação, porém com o passar do tempo isso não é possível, pois se torna uma situação insustentável. A psicanalise é uma parceira insubstituível na ajuda da elaboração desse processo, pois prioriza ouvir o paciente e deixá-lo, mostrar as suas emoções, possibilitando assim, ir além do que é trazido na queixa inicial, o que seria essa perda, essa partida, pois em muitos casos o que é trazido, é apenas sombra do que realmente está causando a aflição. Uma busca profunda é essencial, não só para o que está acontecendo no presente, mas também para casos mal compreendidos do passado e os que ainda virão no futuro, tudo isso ligado a essa pessoa ou objeto querido.
Lidar com a perda nunca será fácil, pelo contrário, até que o indivíduo se depare com ela não se sabe a intensidade da dor que ela pode causar. A humanidade luta desde o início dos tempos para conquistar coisas, isso faz com que a ideia de perder o que foi construído, acarrete uma série de fatores, acumulados com o passar da vida, mas isso mostra que perder faz parte da evolução. As estratégias de enfrentamento são variadas, indo da possibilidade em que cada pessoa se permita sentir, dizer e tentar elaborar aquela dor/perda. Os sentimentos são variados e têm intensidades diferentes.
Cabe ao psicólogo ajudar os sujeitos a lidarem com suas perdas. Estaremos capacitando-os a desenvolverem novos potenciais e enfrentarem futuros desafios impostos pela vida, coisa que muitos nem sabem a dimensão das dores e traumas que está bem diante deles, e aquela necessidade de ser amparado, escutado e acolhido.
Mostrar possibilidades que aquela pessoa não conseguiu ver, mesmo tendo visto tantas vezes, descobrindo que o tempo não tem o mesmo tempo que você, pois todo esse caminho que percorreu, toda as despedidas, as faltas, as perdas, as saudades, as dores é sua e somente você sabe das coisas das quais teve e pôde se despedir.
Paula Machado – CRP: 03/18285