O Dia Nacional de Combate às Drogas é uma iniciativa celebrada em 20/02 e tem como objetivo a conscientização sobre os impactos do uso de drogas na saúde.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a dependência de drogas ilícitas e lícitas uma questão de saúde pública. É importante ressaltar que considera-se drogas lícitas toda substância psicotrópica com venda autorizada em um país.
Para falar sobre a relação entre a Dependência Química e Saúde Mental, convidamos Noilza Abreu – CRP: 03/0015222, que começou a atender na Holos em 2019.
Acompanhe a entrevista!
Qual abordagem você aplica junto aos seus pacientes?
Psicanálise, Saúde Mental e Atenção Psicossocial, Redução de Danos.
Quais são as principais questões levadas por quem procura o eu atendimento?
As demandas da clínica são muito vastas, temos ainda uma cultura muito voltada a patologização.
Em geral, os sujeitos chegam ao consultório em sofrimento, diagnosticados e muitas vezes medicalizados. O trabalho então se inicia em um percurso na direção da construção de estratégias para lidar com os sofrimentos e sobretudo, indagá-los, construindo autonomia, não apenas na direção da "cura" de seus sintomas. Ao final, tratamos de pessoas e seus projetos de vida, não somente sobre substâncias e doenças.
Qual a relação entre a Dependência Química e a Saúde Mental?
Como disciplina, campo de investigação e intervenções, o campo da Saúde Mental dedica grande atenção, produção de conhecimentos e políticas públicas para o tratamento da dependência química, como um fenômeno social que produz sérios agravos à saúde da população como um todo.
Do ponto vista individual, a dependência é uma questão de Saúde Mental, pois tende a produzir sérios prejuízos à vida dos sujeitos, rupturas, perdas, sofrimentos psíquico, prejuízos funcionais, danos à saúde de forma sistêmica em alguns casos mais graves.
Existe alguma predisposição para o uso excessivo de substâncias lícitas e ilícitas?
Há uma distinção importante no que se diz respeito ao uso, uso excessivo (abuso) e dependência química. Nem todo consumo de psicoativos é necessariamente problemático, está em jogo a relação que o sujeito estabeleceu com tal experiência e os prejuízos psicossociais.
A dependência química é um fenômeno complexo e multifatorial. O acompanhamento deve levar em consideração os sujeitos e suas histórias de vida.
Na redução de danos, consideramos a autonomia e as escolhas de cada pessoa em relação ao tratamento, intervenções em saúde sobretudo. É um trabalho conjunto, que deve considerar os sujeitos em relação a suas escolhas e os dispositivos para melhor ajudá-lo em sua questão, rede de cuidados em saúde e suporte familiar e psicossocial.
De que maneira a família do paciente pode auxiliar nessa questão?
A família tem um papel fundamental como parte integrante do tratamento e sujeitos que também carecem de cuidados. Ser familiar de uma pessoa em sofrimento psicossocial como a dependência química, pode ser uma experiência muito avassaladora e necessita de suporte psicossocial.
São pressupostos das políticas públicas de Saúde Mental que a família seja incluída como parte integrante do tratamento em seus saberes na convivência com sujeito que será acolhido, é um trabalho conjunto, equipes de saúde, família e sociedade.
Qual conselho você dá para quem está com algum familiar ou amigo passando por essa situação?
A busca de suporte psicossocial é um instrumento necessário para uma ajuda qualificada nesta complexa questão, para que a família não se sinta desamparada e a oferta de intervenções em saúde seja assertiva, com intervenções morais e reducionistas.
Muitas abordagens e instituições que não se orientam pela Política Nacional de Saúde Mental e outras drogas, que tem como abordagem a redução de danos, reduzem suas intervenções a práticas que consideram muito mais as substâncias e não as pessoas, cometendo sérias violências e desrespeito aos direitos humanos de pessoas em tratamento e suas famílias.
É possível contar com tal suporte tanto na rede pública, quanto privada, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) é um exemplo de dispositivo público territorial.
Noilza Abreu – CRP: 03/0015222
